Tipos e Estilos

Terroir, uvas e técnicas de vinificação: Entenda como esses fatores contribuem para criar vinhos de corpo leve e encorpados

Taças de vinho branco e tinto em cima de mesa com um bonito vinhedo ao fundo

Nesse fascinante mundo dos vinhos, uma das distinções mais intrigantes é a diferença entre vinhos de corpo leve e encorpados.

Enquanto o primeiro grupo reúne, em maior parte, os vinhos refrescantes, frutados, de menor teor alcoólico e menos concentrados, o outro, engloba vinhos mais potentes que normalmente são consumidos junto com uma refeição.

Neste artigo, vamos explorar o corpo dos vinhos, desvendando os segredos por trás das uvas e das técnicas de vinificação que conferem estrutura e personalidade a cada rótulo.

Tenha uma boa leitura!

 

Terroir: tudo começa no vinhedo

Homem colhendo uvas tintas no vinhedo

Algumas variedades de uvas têm potencial para originar vinhos leves, enquanto outras, vinhos mais encorpados.

As cascas das uvas desempenham um papel crucial na elaboração de vinhos, especialmente quando se trata de conferir corpo e estrutura à bebida.

Uvas de casca mais fina, como a Pinot Noir, por exemplo, costumam dar vida aos vinhos leves. Já as uvas de casca mais espessa, como a Cabernet Sauvignon, têm maior potencial para criação de vinhos encorpados.

Diversos elementos presentes nas cascas contribuem para a produção de vinhos de maior corpo. As antocianinas, pigmentos naturais que conferem a cor aos vinhos tintos, e os taninos, compostos fenólicos responsáveis por proporcionar a sensação de adstringência e secura na boca, são fundamentais para a estrutura, conferindo robustez ao vinho.

O ambiente em que as uvas são cultivadas também pode influenciar na estrutura do vinho, já que a anatomia do fruto é modificada de acordo com a quantidade e intensidade de sol que o mesmo recebe. Um ótimo exemplo, são as uvas Malbec que, em regiões vinícolas mais quentes e altas da Argentina, como Salta, desenvolvem casca mais grossa para se protegerem do sol.

Quanto mais sol a uva recebe, mais maduro será o fruto, concentrando uma quantidade significativa de açúcar que mais tarde será convertida em álcool. Um vinho com maior teor alcoólico será, então, mais encorpado que um vinho com teor alcoólico baixo.

Amalaya Malbec é um excelente exemplo do poder que o ambiente em que as uvas são cultivadas tem sobre a estrutura do vinho.

Garrafa de vinho Amalaia Malbec

Produzido pela Bodega Colomé, uma vinícola localizada na quente e seca região de Salta, no noroeste da Argentina, conhecida por suas vinhas de altitude extrema, é um Malbec de cor profunda e intensa, com elevado teor de álcool, aromas de cerejas e ameixas maduras, que, na boca, é conhecido por ser estruturado, concentrado e com taninos maduros.

 

Quais uvas originam vinhos leves e encorpados?

Uvas tintas que originam vinhos encorpados

Dentro da extensa gama de uvas viníferas brancas, variedades como Alvarinho, Loureiro, Pinot Grigio, Riesling, Sauvignon Blanc, Torrontés e Verdejo, por exemplo, revelam vinhos leves e vivazes. Por outro lado, a Chardonnay, Encruzado, Viognier, Sémillon e Viura, por exemplo, podem originar vinhos ricos, untuosos e encorpados.

No reino das uvas tintas, a Gamay, Pinot Noir, Schiava e Garnacha são propensas a dar vida a tintos leves e elegantes. Já a Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot, Syrah, Tannat, Tempranillo e Touriga Nacional se destacam pela personalidade intensa, podendo resultar em vinhos encorpados e de longa guarda.

 

Técnicas de vinificação

Enólogo segurando taça de vinho tinto com barricas de carvalho ao fundo

A criação de vinhos mais leves ou mais encorpados envolve uma combinação de fatores naturais, como vimos anteriormente, com práticas de vinificação e técnicas específicas durante o processo de produção. Aqui estão algumas técnicas de vinificação que contribuem para a obtenção de vinhos mais encorpados:

1. Maceração Prolongada: A maceração é o processo em que o mosto (suco de uva) permanece em contato com as cascas e sementes durante a fermentação. Em vinhos encorpados, a maceração prolongada permite a extração máxima de compostos como taninos e antocianinas das cascas, conferindo estrutura, cor intensa e complexidade ao vinho.

Um vinho totalmente diferente, que utiliza a técnica de maceração prolongada, e tem ganhado popularidade entre apreciadores de vinho que buscam experiências sensoriais únicas e distintas é o Tinaja Moscatel de Alejandria.

Garrafa de vinho Tinaja Moscatel de Alejandria

Elaborado por meio de práticas ancestrais, este vinho laranja é produzido exclusivamente a partir de uvas Moscatel de Alexandria provenientes de vinhas velhas de 80 anos. Estas videiras são cuidadas apenas com enxofre em pó, um produto de rocha moída de origem orgânica. A fermentação e maceração ocorrem durante cinco meses em tradicionais tinajas de barro.

2. Fermentação Malolática: A fermentação malolática é uma transformação bacteriana que converte o ácido málico (encontrado naturalmente nas uvas) em ácido láctico. Essa fermentação, comum em praticamente todos os vinhos tintos e em alguns vinhos brancos, como Chardonnay e Viognier, proporciona à bebida uma sensação de textura cremosa e quase oleosa, conferindo-lhe uma qualidade aveludada.

3. Uso de Barricas de Carvalho: O amadurecimento em barris de carvalho é uma técnica que não apenas adiciona aromas e sabores complexos ao vinho, mas também contribui para a textura e suavidade. Vinhos que passam um período prolongado em barricas, absorvem os compostos da madeira que complementam sua estrutura.

4. Amadurecimento Sur Lie: O amadurecimento sur lie é um processo utilizado especialmente na produção de vinhos brancos e espumantes, que envolve deixar o vinho em contato com as leveduras mortas (borras) após a fermentação alcoólica. Esse método contribui para a complexidade aromática, estrutura e textura do vinho.

Garrafa de vinho espumante Cave Amadeu Rustico

Alguns espumantes feitos através do processo Sur Lie não passam pela etapa de dégorgement, ou seja, as leveduras permanecem dentro da garrafa. É o caso do Cave Amadeu Rustico Nature, um espumante turvo, cremoso e encorpado que apresenta aromas de frutos secos, pães tostados e fermento.

5. Segunda fermentação em garrafa (vinhos espumantes): O método champenoise, também conhecido como método tradicional ou método clássico, é um processo de produção de vinhos espumantes, especialmente associado à região de Champagne, na França. Esse método é caracterizado pela segunda fermentação do vinho na própria garrafa, onde o contato prolongado com as leveduras mortas, assim como no amadurecimento Sur Lie, confere ao espumante maior corpo e características distintas.

 

Harmonizações com vinhos leves e encorpados

Taças de vinho tinto em mesa com tábua de frios

Ao harmonizar vinho com comida, buscamos sempre fazer com que o sabor de um não se sobressaia ao do outro. Sendo assim, é sempre recomendável equilibrar o peso da comida com o do vinho.

Isso significa, que comidas leves harmonizam melhor com vinhos de corpo leve e comidas pesadas com vinhos encorpados e estruturados.

Vinhos como Sauvignon Blanc, Riesling e Pinot Grigio, por exemplo, casam super bem com frutos do mar e saladas, enquanto os encorpados, como Chardonnay, pedem pratos com mais estrutura, untuosidade e molhos cremosos.

Tintos leves, como Gamay, Pinot Noir e Grenache, encontram parceria ideal com peixes, aves e carnes magras, enquanto os encorpados, como Malbec, Cabernet Sauvignon e Syrah, por exemplo, são mais recomendados para as carnes vermelhas gordas e queijos intensos.

 

Conclusão

Em cada gole, o mundo do vinho nos oferece uma experiência única e cativante. Desvendar as diferenças entre vinhos leves e encorpados é mergulhar em um universo intrigante, onde o terroir, o perfil de cada variedade de uva e as técnicas de vinificação se entrelaçam, criando uma experiência prazerosa para o paladar.

Ao explorar essa riqueza, encontramos não apenas bebidas, mas verdadeiras obras de arte em cada garrafa.

Saúde!

Um comentário sobre “Terroir, uvas e técnicas de vinificação: Entenda como esses fatores contribuem para criar vinhos de corpo leve e encorpados

  1. SEBASTIAO DA SILVEIRA disse:

    Muito instrutivo. Gostei muito. Parabéns pela iniciativa.

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