Pontuações

Pare de beber (só) vinhos pontuados!

Por que não comprar vinhos pontuados

Todo mundo que gosta de vinho, sempre quer um bom vinho. Ninguém gasta dinheiro para se decepcionar depois, ou pior, decepcionar suas melhores companhias.
Por esse motivo, cada um tem seus critérios de escolha.
Um desses critérios é escolher vinhos premiados pelos críticos.

No entanto, tem gente que leva isso tão a sério, que compra APENAS vinhos premiados ou pontuados.
Será que isso é uma boa?

Vamos testar esse modelo em outros aspectos da nossa vida?

Pensemos em Relacionamentos.

 

Concurso de Miss

Algumas pessoas querem se relacionar com pessoas bonitas. Se essa é sua preferência, você só se relacionaria com alguém com título de Miss ou Mister em algum concurso? Fora desse mundo não tem ninguém que lhe atraia?
Algumas pessoas querem se relacionar com pessoas inteligentes. Se essa é sua preferência, você só se relacionaria com alguém com Mestrado, Doutorado ou PhD? Fora desse mundo, não tem ninguém que lhe atraia?

Ainda nessa linha: pense que existem concursos de beleza como Miss Brasil, Miss Universo, etc, e têm os concursos de qualquer fundo de garagem… E aí, vale qualquer um?

Faculdades e universidades, idem. Existem as mais renomadas e outras… nem tanto. Vale qualquer uma?

 

Voltemos aos vinhos.

Uma pontuação elevada, dada por um crítico ou concurso de renome, sim, é uma bela referência.
Mas, para ter certeza, você precisa entender como são os critérios!
Para saber um pouco mais sobre esse assunto, recomendamos dar uma olhada em outro artigo que temos aqui no Blog. Segue o link abaixo, para sua referência:

Guias de vinhos: Conheça os mais renomados e entenda como os vinhos são pontuados

 

E os vinhos que não têm pontuação nem premiação? São ruins?

É verdade que tem muito vinho ruim no mercado, infelizmente. Eu diria que tem até vinho pontuado ruim também… Adiante falaremos sobre isso.

Mas, claro, tem vinhos ótimos que nunca foram pontuados. Por quê?
Essa é a parte bacana da coisa. Primeiro vamos descrever, de uma forma muito resumida, como é o processo de pontuação, para depois conseguirmos entender porque existem excelentes vinhos “fora” desse mundo.

 

Como funciona a pontuação

Críticos de vinhos

Se você imagina que os críticos vão até alguma loja, escolhem um vinho, e compram para avaliar (como nós, pobres mortais, fazemos), desculpe, mas não é bem assim que a coisa funciona.
Em geral, as vinícolas submetem seus vinhos para avaliação, enviando um lote de seus rótulos para os críticos ou concursos.

Além dos vinhos, podem enviar outras coisas também, para “agradar” os avaliadores. Quando mais rica e/ou tradicional é a vinícola, maior o poder de “persuasão”.
Claro, existem críticos sérios, que não aceitam esses agrados, ou não os levam em consideração no seu trabalho.

Como tudo na vida, existem os bons e os maus. Por isso, é importante analisar quem está pontuando ou premiando um determinado produto.
Recebidos os produtos, os avaliadores escolhem quais vão provar. Aí vem a primeira questão: eles provam tudo o que recebem? Os mais renomados, certamente não. Por escolha pessoal, ou qualquer outro motivo, eles podem desprezar algum rótulo excelente que tiveram acesso! Ou, seja, aquele ótimo vinho não vai merecer pontuação.

Escolhidos os rótulos, segue a degustação. Mesmo o crítico mais renomado, tem suas preferências pessoais. Por mais técnico, isento, e profissional que seja, dificilmente sua percepção não é afetada pelo próprio gosto. Se não fosse assim, todos eles dariam a mesma pontuação para os vinhos – e isso acontece muito pouco!

Há alguns anos, Robert Parker, um dos mais famosos críticos de vinhos do mundo, teve que mudar seus critérios de pontuação. Pois ele e sua equipe perceberam uma tendência de pontuar melhor vinhos com mais barrica de carvalho, especialmente da Espanha. E que isso estava influenciando o mercado mundial.

Por falar nisso. Você pode perceber, e isso não é segredo, que um vinho com pontuação elevada tende a ficar mais caro. É a lei de mercado: as pessoas se interessam mais pelo produto, compram mais, e isso eleva os preços.
É óbvio que isso faz um bem enorme para o caixa das vinícolas que produzem esses rótulos e… algumas vezes para o bolso dos críticos também.
Alguns críticos cobram para fazer suas avaliações (o que, em tese, não tem nada de errado, pois é um trabalho), e, imagine – aqueles que têm o “poder” de fazer um vinho se valorizar no mercado, podem ter uma melhor remuneração.
Além disso, geram receita criando clubes de assinaturas para os consumidores receberem seus comentários em primeira mão, e vendendo direitos de uso de suas marcas e avaliações.

E, além dos críticos, existem os Concursos de vinhos. Que distribuem fartamente medalhas de ouro, prata e bronze, além de selos de participação e outras condecorações diversas.
Para esses, você precisa ter cuidado redobrado

Vamos relembrar um caso desse, que presenciamos nós mesmos, que foi considerado um “fenômeno” no Brasil. Se você consome vinho há algum tempo, talvez se lembre dele.

 

O caso Toro Loco

Vinho Toro Loco

“O vinho Toro Loco começou a chamar atenção da comunidade internacional quando, em 2011, ganhou o segundo lugar na International Wine and Spirits Competition”.

“Vinho de R$ 11,50 é eleito um dos melhores do mundo”

“Jovem e até então desconhecido pelos apreciadores de vinho, o espanhol Toro Loco Tempranillo 2011 virou uma febre no mercado mundial.”

Quem está no mundo do vinho há mais tempo, certamente vai se lembrar do ano de 2012, quando o vinho Toro Loco Tempranillo chegou ao Brasil, na esteira de manchetes em todas as mídias, como as acima. Que transformaram uma medalha de prata em “segundo lugar” – como se fosse uma competição esportiva/individual.

Lendo isso, quem não tem vontade de provar esse vinho, ainda mais peço preço que foi vendido na época, a R$ 25?

De “segundo” melhor do mundo, no boca-a-boca, quem conta um conto aumenta um ponto, rapidamente nas rodas de enófilos já se falava que era o melhor vinho do mundo

Logo, sem grandes dúvidas, foi o fenômeno de vendas do ano, e durante muito tempo ainda figurou na lista dos mais vendidos. Esse vinho foi o responsável pela ascensão meteórica de seu importador, que se tornou a loja virtual mais famosa de vinhos do Brasil, na época.

O lado bom é que muita gente começou a se interessar por vinhos, e a provar tintos. O mercado, em geral, agradece.

Bem, vamos começar a desmistificar o que ocorreu.

 

Quem é a IWSC, instituto que fez a avaliação?

International Wine and Spirit Competition

Retirando do próprio site deles, e traduzindo para o português (negritos nossos):

“Se estiver à procura de exposição aos decisores, feedback de especialistas, testes de mercado, reconhecimento da marca ou aumento das vendas – o International Wine and Spirit Competition está aqui para ajudar. Através de nossos eventos de degustação e campanhas de marketing durante todo o ano, damos a você a oportunidade de se envolver com os principais sommeliers, compradores tanto para o comércio quanto para o off-trade, consumidores e influenciadores. Entre no IWSC para que seus vinhos sejam notados.”

Pela descrição acima, podemos imaginar que é uma empresa de marketing de bebidas, e que, entre outras coisas, faz uma “competição”.

Ou seja, eles promovem as vinícolas que pretendem ser “notadas”. Interessante.

 

Como funciona a Premiação?

Ainda dentro do site deles, você pode acessar os resultados das “premiações”. No ano de 2024, notamos que ganharam Medalha de Ouro aproximadamente 128 rótulos. E Medalha de Prata, outros… 960 rótulos!!!

Então, como fica a história do Toro Loco ser o segundo melhor do mundo? Exagerando MUITO, ele seria, na melhor as hipóteses, o 129º colocado naquele ano… Mas, sendo mais realista, podemos dizer que ele foi um entre mais de 1000. Num concurso realizado por uma instituição que “promove” rótulos.
Sem querer desmerecer o trabalho deles, que é importante, e sério, com profissionais extremamente competentes.

Agora, a “mídia”… Essa sim, adora ampliar uma história como ninguém.

 

Degustação do Toro Loco na Vino Mundi

Toro Loco na Vino Mundi

Sim, nós fizemos uma degustação às cegas com o Toro Loco!!!

Curiosos, como todos os apreciadores estavam, naquela época, não poderíamos deixar de provar esse fenômeno “mundial”, cuja safra foi toda vendida para o Brasil (vide mais adiante).
Então, resolvemos convidar 12 clientes para provarmos o Toro Loco junto com outros vinhos, dentre similares por região, uva ou preço.
Nossa degustação foi bem informal, e não quisemos fazer algo profissional. Foi mais uma brincadeira entre amigos, descontraída, para aprendermos juntos e matar a curiosidade de todos.

Servimos 5 vinhos, e cada participante deu sua nota, de 1 a 10 (não colocamos a possibilidade de nota zero).
Feitos os cálculos, dado o veredicto: o Toro Loco ficou em último lugar, com nota média de 5,5. A nota média dos demais vinhos foi de 8,1.

Apenas 2 pessoas deram nota maior ao Toro Loco do que ao segundo colocado, que era um Malbec Argentino suuuuper básico (mas de mesmo preço do Toro Loco). Essas pessoas confirmaram que não gostam de Malbec… Então, não podia ser diferente mesmo.

 

Mais um mistério nessa história

Mais um Mistério na história

A “pequena” vinícola da região de Utiel-Requeña, que produz o Toro Loco, na época do fenômeno, tinha capacidade de produzir 60.000 garrafas por ano, segundo uma fonte que consultamos.

Foram importadas e vendidas no Brasil 300.000 garrafas de uma única safra.

O milagre da multiplicação da produção é assunto pra outra matéria… Se quiser saber mais sobre isso, coloque nos comentários abaixo.

 

Outros motivos de vinhos ótimos não serem pontuados

  • Vinícola pequena, que não pode arcar com os custos de avaliação e logística do processo;
  • Minúscula produção, que não faz sentido enviar para avaliação, pois o lote é muito pequeno e raro;
  • Vinho já tem grande reputação no mercado, e não precisa de pontuação para vender a produção rapidamente. Exemplo: Pera Manca (tanto o Tinto como o Branco são considerados grandes ícones, aumentam de preço ano após ano, e toda a produção é disputada pelos importadores, sem exceção).

 

Resumo

Por que não comprar (só) vinhos pontuados:

  • Desconfiar dos critérios de avaliação;
  • Vinhos premiados tendem a custar mais caro do que realmente valem;
  • Limitam sua descoberta e prazer em degustar vinhos diferentes;
  • Na maior parte das vezes, são de vinícolas grandes e/ou tradicionais, deixando de fora pérolas escondidas ou produtores pequenos com grande talento.

 

Esperamos que, caso você seja uma pessoa que só gostava de comprar vinhos premiados, com este artigo reveja seus critérios!

Na Vino Mundi, temos uma seleção de vinhos pontuados, mas também, obviamente, buscamos produtos que valem mais do que custam – as pérolas escondidas – que temos o prazer de oferecer.

 

Seguem algumas sugestões abaixo – vinhos que não têm pontuação, mas que são Grandes Escolhas:

Cartuxa Reserva Tinto 2017

De: R$ 699,00 Por: R$ 598,00 R$ 568,10 no pix

Luis Cañas Rioja Crianza 2021

De: R$ 283,00 Por: R$ 239,00 R$ 227,05 no pix

Quinta do Noval Petit Verdot Tinto 2021/2022

De: R$ 349,00 Por: R$ 299,00 R$ 284,05 no pix

 

Na sua próxima compra, fale com nossa equipe. Certamente podemos encontrar o vinho ideal para você, perfeito para as suas preferências, e adequado ao seu orçamento.

 

Boa degustação!

 

Referências:

https://diariodebaco.com.br/toro-loco-2011-um-vinho-que-deu-sorte/

https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2012/05/24/vinho-de-r-1150-e-eleito-um-dos-melhores-do-mundo-no-reino-unido.htm

https://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?id=259256&noticia=vinho-de-r-1150-e-eleito-um-dos-melhores-do-mundo

https://iwsc.net/wines

https://divinoguia.com.br/

2 comentários sobre “Pare de beber (só) vinhos pontuados!

  1. Lucio Flavio Sesti Paz disse:

    Um bom artigo, que tenta dismistificar concursos e pontuações de vinho como únicas variáveis para direcionar o consumo. Interessante ponto de vista.

    1. Renato Prado disse:

      Lucio, obrigado pelo comentário. Ficamos felizes pelo nosso artigo ter sido útil para uma reflexão!

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