A influência dos barris de carvalho no vinho

A passagem por barris de carvalho não é um pré-requisito para a produção de um vinho, e engana-se quem acredita que para um vinho ser bom, precisa de algum estágio em barricas. Fato é que o carvalho pode mudar completamente o caráter de um vinho, interferindo em seus aromas, sabores e em sua textura.
Neste artigo você ficará sabendo quais os tipos de barris mais utilizados na produção de vinhos, como eles interferem nas características da bebida e, também, conhecerá alguns dos mais interessantes vinhos com passagem por barrica que temos aqui na Vino Mundi.
Tenha uma boa leitura!
Como os barris de carvalho afetam as características do vinho
Primeiramente, é importante esclarecer que o vinho não é envelhecido em carvalho. O envelhecimento começa a contar a partir do momento em que o vinho é engarrafado. Antes disso, qualquer passagem da bebida por barris é descrita como amadurecimento. Ou seja, o vinho amadurece em barris.
Dito isso, o amadurecimento em barris afeta o vinho da seguinte maneira:
- Permitindo a entrada controlada de oxigênio, o que torna o vinho mais palatável, principalmente por suavizar sua adstringência.
- Fornecendo um ambiente perfeito para que ocorram determinadas reações químicas, como a fermentação malolática, que transforma o ácido málico do vinho em ácido lático, tornando-o mais cremoso.
- Acrescentando cores, aromas e sabores que são passados ao vinho através do contato com a madeira.
- Adicionando textura (corpo) e taninos que também são acrescidos ao vinho através do contato com a madeira.
Quais os principais tipos de carvalho usados no vinho?
Quercus alba, também conhecido como carvalho branco americano e Quercus petrea, chamado de carvalho branco europeu são as duas espécies mais utilizadas na produção de vinhos.
O primeiro cresce em todo o leste dos EUA, principalmente no estado do Missouri. Já o segundo, é comumente encontrado em países como França, Hungria e Croácia.
A principal diferença física entre o carvalho americano e europeu é a sua densidade, já que o europeu é descrito como sendo um carvalho mais denso, permitindo que menos oxigênio entre em contato com o vinho.
Por essa característica, o carvalho europeu é preferido pelos produtores para estagiar vinhos mais leves e sutis, como o Pinot Noir.
Um bom exemplo de Pinot Noir com passagem por barricas francesas é o Schubert Selection Pinot Noir, um ótimo exemplar da Ilha Norte da Nova Zelândia.
O vinho passa por 12 meses em carvalho francês adquirindo aromas e sabores sutis de especiarias, toques defumados, de baunilha e tabaco, sem perder o frescor e a fruta, que é característica marcante da uva Pinot Noir.
Quais os principais aromas e sabores que os vinhos adquirem com o estágio em carvalho?
Dependendo da espécie e da nacionalidade, o carvalho oferecerá ao vinho perfis de aromas e sabores ligeiramente diferentes.
O carvalho francês, por exemplo, é conhecido por transferir ao vinho aromas e sabores de maneira mais sutil, enquanto o americano é o oposto, oferecendo aromas e sabores mais intensos.
Frutos secos, amêndoa torrada, açúcar queimado, madeira nova, coco, especiarias, defumados e baunilha são os principais aromas e sabores que o vinho adquire com o estágio em carvalho.
É importante mencionar que os aromas e sabores extraídos do carvalho vão ficando menos intensos cada vez que o barril é usado.
Tempo de maturação e uso dos barris
De maneira geral, os vinhos tintos passam maior período de estágio em carvalho do que os vinhos brancos, e o tempo de maturação vai depender das preferências do enólogo, bem como do tipo de vinho e das regras estabelecidas por cada região ou denominação de origem.
Um vinho tinto Rioja Reserva, por exemplo, tem estágio mínimo de 12 meses em carvalho, enquanto o Rioja Gran Reserva deve estagiar por pelo menos 18 meses.
O produtor entende que a grande estrutura e potencial de guarda deste vinho necessita maior período em carvalho.
Após aproximadamente 3 usos, o barril de carvalho reduz significativamente a transferência de aromas e sabores ao vinho, mas continua agindo na bebida, ainda permitindo a micro-oxigenação e suavizando o paladar.
Tamanho de barris e pontos de tosta
Os barris menores, geralmente de 225 litros, têm maior influência sobre o vinho do que as barricas maiores. Isso acontece porque nos barris menores a superfície de contato é maior em relação ao volume.
Além da barrica tradicional de 225 litros, outros dois tamanhos são bastante utilizados:
- Foudre – 1000 litros;
- Pipa – 550 litros;
A filosofia do produtor deste vinho é utilizar barris de diversos tamanhos e diversos usos, para a fruta permanecer em evidência.
Os barris de carvalho são montados através do encaixe das ripas de madeira, que são aquecidas para que se tornem flexíveis. O aquecimento é feito através de água quente, vapor ou fogo.
A tosta da madeira tem basicamente três níveis: baixa, média e alta, e cada uma delas interfere de uma forma diferente no vinho. De modo geral, quanto maior o nível de tosta, mais aromas e sabores a madeira passará ao vinho.
Vinhos com estágio em barris de Uísque
Já é uma realidade nos Estados Unidos e, aqui no Brasil, cada vez mais vemos vinhos com algum período de estágio em barricas de Bourbon, como são chamados os uísques norte-americanos.
O vinho que recebeu o nome de 1000 Stories é um tinto feito com a uva Zinfandel que tem estágio em barricas convencionais e, depois, passa por uma combinação de barris de bourbon novos e usados para completar o processo de maturação. A passagem por barris de bourbon transmite características de baunilha carbonizada e ervas secas ao vinho.
Na Argentina, o produtor Finca Las Moras também criou uma linha de vinhos com a mesma proposta. Os vinhos Los Intocables são estagiados em barricas de Uísque e, alguns, em barris de Rum.
O Los Intocables Cabernet Sauvignon, um dos mais interessantes da linha, contempla um estágio de 12 meses em barricas de bourbon e apresenta notas de chocolate e mel. No paladar, a tosta média confere sabores de baunilha e pimentão assado.
Conclusão
Como vimos nesta publicação, barris de carvalho de diferentes tamanhos, níveis de tosta e quantidades de uso fazem parte da produção de inúmeros vinhos, sejam brancos ou tintos. Os barris podem mudar significativamente o perfil de um vinho, interferindo na sua coloração, aromas, sabores e textura.
O estágio em carvalho é benéfico para tornar mais palatáveis os vinhos de bastante estrutura e longevidade, mas isso não significa que o uso do barril seja essencial para todo e qualquer vinho.
Existem exemplares jovens, leves e de bastante frescor que intencionalmente não passam por barricas, justamente por não se beneficiarem do estágio em madeira.
Um brinde!
Boa Noite!
Se eu cortar um galho robusto de carvalho, fizer gravetos, e coloca-los numa garrafa de vinho tinto, pode melhorar o paladar do vinho?
Agostinho, quem dera fosse fácil assim…
Se isso funcionasse, as vinícolas não precisariam gastar cerca de 1200 Euros em cada barrica de carvalho para envelhecer o vinho!