Vinícolas

Conheça a história da Cartuxa: uma das mais reconhecidas marcas de vinhos do Alentejo

Foto aérea dos vinhedos da Fundação Eugénio de Almeida

Imersa nas ricas tradições vinícolas de Portugal, a marca de vinhos Cartuxa emerge como um símbolo de excelência e herança histórica. Sua história remonta ao século XVI, com a dedicação dos Monges Cartuxos ao cultivo de vinhas.

Contudo, com a dissolução das ordens religiosas em Portugal, no século XIX, diversos eventos aconteceram, desencadeando uma transformação que, décadas depois, resultaria na criação da Fundação Eugénio de Almeida, que, anos mais tarde, viria mudar a história dos vinhos do Alentejo ao iniciar a produção de vinhos sob a marcante etiqueta Cartuxa.

Desde então, esses vinhos, enraizados nas tradições alentejanas, ganharam destaque internacional, elevando a marca a um patamar de reconhecimento e distinção.

Este artigo desvenda a fascinante história da Cartuxa, desde os dias de cultivo pelos Monges Cartuxos até a moderna adega que combina tradição e inovação. Navegaremos pelos séculos, explorando como a Fundação Eugénio de Almeida se tornou a guardiã do legado vinícola, culminando na produção de vinhos notáveis, como o lendário Pêra-Manca.

Tenha uma boa leitura!


Os Monges Cartuxos

Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli

A marca Cartuxa é como uma joia preciosa no mundo dos vinhos portugueses, associada à Fundação Eugénio de Almeida, uma instituição com raízes históricas profundas em Évora, no Alentejo. A rica história da Cartuxa começa lá atrás, no século XVI, quando o Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli, também conhecido como Convento da Cartuxa, foi erguido em 1587 pelo Arcebispo de Évora, D. Teotónio de Bragança.

Dentro das suas paredes, viviam os Monges Cartuxos, uma ordem monástica contemplativa, que por séculos cultivou vinhedos ao redor do mosteiro. Mas, em 1834, com a dissolução das ordens religiosas em Portugal, os Cartuxos foram banidos do país e seus bens confiscados. O governo transformou o convento numa escola agrícola até ser vendida, em 1869, a José Maria Eugénio de Almeida.


A criação da Fundação Eugénio de Almeida

Foto de Vasco Eugénio de Almeida

Por trás da Cartuxa está a influente Família Eugénio de Almeida, com uma história marcante no século XIX.

Em 1913, em Lisboa, nasce Vasco Maria Eugénio de Almeida, que se tornaria um dos grandes mecenas e filantropos do século XX em Portugal.

Desde jovem, Vasco Maria, bisneto de José Maria Eugénio de Almeida, estabeleceu fortes conexões com Évora e seu povo, devido ao vasto patrimônio da família na região.

Ele sempre valorizou as pessoas, direcionando todos os seus esforços a elas. Entre eles, destacam-se a revitalização da viticultura, iniciada por seu avô, Carlos Maria Eugénio de Almeida, e o investimento na plantação de extensas áreas de oliveiras próximas a Évora, resultando nos vinhos e azeites produzidos até hoje.

Para dar sentido ao legado dos seus antecessores, Vasco Maria Eugénio de Almeida teve uma ideia brilhante: criar a Fundação Eugénio de Almeida em 1963. O objetivo? Ajudar os menos afortunados e fazer Évora se desenvolver ainda mais.

Até hoje, a Fundação promove o progresso cultural, educacional, social e espiritual de Évora, uma cidade linda que ganhou até um selo de Patrimônio da Humanidade da Unesco!

Muito desse encanto e preservação é graças ao trabalho realizado pela Fundação. E o que permite realizar este feito, é principalmente a produção dos vinhos na Adega e os azeites no Lagar Cartuxa.


O surgimento da Adega Cartuxa

Foto da fachada da Adega Cartuxa

Responsável por uma coleção de vinhos famosos, incluindo o icônico Pêra-Manca, a Cartuxa tem em sua posse duas propriedades que são parte da vasta e rica história da região do Alentejo: a Adega Cartuxa Quinta de Valbom e a Adega Cartuxa Monte de Pinheiros.

A primeira, que fica na Quinta de Valbom, é um dos centros de estágio dos vinhos produzidos pela Fundação Eugénio de Almeida, vinhos esses que começaram a ser produzidos em 1978 sob a marca Cartuxa, utilizando as vinhas que originalmente pertenciam aos Monges Cartuxos. É uma propriedade histórica, que em 1580, foi adquirida pelo padre jesuíta Pedro Silva, reitor da Universidade de Évora, com o intuito de abrigar os professores da universidade.

Em 1759, com a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, a Quinta de Valbom passou para as mãos do Estado e, em 1776, recebeu um lagar de vinho que rapidamente ganhou importância na região. Sua proximidade com o Mosteiro da Cartuxa a fez ser conhecida, até hoje, como Adega Cartuxa.

Com o cultivo de uvas e a produção de vinho sempre crescendo na Instituição, a Adega passou por diversas melhorias. Localizada no antigo refeitório da Casa de Repouso dos jesuítas, foi reestruturada entre 1993 e 1995, ganhando novos equipamentos e ampliando todos os seus setores, o que permitiu o aumento considerável da vinificação e capacidade de armazenagem.

Já a segunda adega, na Herdade de Pinheiros, possui a mais avançada tecnologia e permite receber a totalidade da uva produzida nas vinhas. Todo ano, cerca de seis milhões de garrafas saem de sua linha de engarrafamento totalmente automatizada, distribuídas por vinhos brancos, rosés e tintos das marcas Vinea Cartuxa, EA, Foral de Évora, Cartuxa, Scala Coeli e Pêra-Manca.

Garrafa de vinho EA Cartuxa tinto

Produzido pela primeira vez em 1992, da Adega Cartuxa Herdade de Pinheiros sai o agradável e fresco EA Cartuxa, que leva as iniciais de Eugénio de Almeida. Os vinhos EA são a proposta da Adega Cartuxa para o dia a dia e ocasiões mais informais. O tinto mistura as uvas Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet, Syrah e Castelão, plantadas nas vinhas da Fundação Eugénio de Almeida.


Algumas curiosidades sobre a Cartuxa

1 – Cerca de 7 milhões de garrafas de vinho são produzidas anualmente na Cartuxa, sendo o Brasil o seu principal mercado de exportação.

Garrafa de vinho Cartuxa Colheita Tinto

Um desses vinhos que chega ao Brasil e já se tornou um clássico entre os consumidores é o Cartuxa Colheita Tinto. Foi produzido pela primeira vez em 1986 e é feito, principalmente, com as uvas Aragonez, Trincadeira e Alicante Bouschet. O vinho passa 12 meses em barricas e tonéis de carvalho francês e 12 meses em garrafa.

2 – A Adega Cartuxa Quinta de Valbom tem uma ligação estreita com a Companhia de Jesus, uma ordem religiosa que teve um papel significativo em Portugal, especialmente na educação, na expansão missionária e na vida religiosa do país.

3 – Os Monges Cartuxos são personagens fascinantes da história. Esta ordem é uma das mais rigorosas do mundo, pois requer que os membros façam um voto de silêncio e pobreza. Eles só podem se comunicar uns com os outros por breves momentos aos domingos.

4 – Em 1948, Vasco Maria Eugénio de Almeida reconstruiu o mosteiro que existia na propriedade comprada por seu bisavô em 1869, e o entregou de volta aos monges da Ordem dos Cartuxos, para que pudessem viver como sempre desejaram.

5 – Os monges partiram em 2019, pois eram necessários pelo menos oito para se qualificarem como Ordem, e caíram para seis. O mais novo tinha 84 anos, por isso os seis foram transferidos para outros mosteiros cartuxos na França, no Brasil e nos EUA.

6 – O nome Pêra-Manca deriva das pedras encontradas na região, conhecidas por serem oscilantes e instáveis, sendo assim chamadas de “pedras mancas”.

Garrafa de vinho Pera Manca branco

A versão branca do Pêra-Manca foi elaborada pela primeira vez em 1990, e é feita com as uvas Antão Vaz e Arinto. Uma parte do vinho fermenta em barricas de carvalho francês. Após a fermentação é realizado um estágio sobre borras finas durante 12 meses, seguido por envelhecimento final de 12 meses em garrafa.

7 – Diz-se que o vinho Pêra-Manca foi o escolhido por Pedro Álvares Cabral para celebrar com os nativos em 1500, quando os portugueses chegaram pela primeira vez ao Brasil.


Conclusão

À medida que exploramos os séculos de história entrelaçados nas vinhas da Cartuxa, somos transportados para uma jornada de tradição e renovação que define a essência desta prestigiada marca de vinhos portugueses. Desde os dias em que monges cartuxos cuidavam das vinhas nas proximidades do Mosteiro da Cartuxa no século XVI, até a moderna adega da Fundação Eugénio de Almeida, a marca Cartuxa tornou-se uma síntese harmoniosa do passado e do presente.

A Fundação Eugénio de Almeida desempenha um papel crucial como guardiã do patrimônio vinícola, preservando não apenas as tradições seculares, mas também abraçando a inovação para criar vinhos notáveis que conquistam paladares ao redor do mundo.

Ao brindarmos com uma taça de Cartuxa, celebramos não apenas o sabor, mas também a jornada fascinante que transformou um legado monástico em uma expressão contemporânea da arte vinícola. A Cartuxa continua a cativar amantes de vinho, oferecendo uma experiência sensorial que transcende o tempo. Neste universo de videiras e tradições, a marca Cartuxa permanece como um testemunho vivo da paixão pela vinificação, marcando seu espaço como uma joia preciosa no vasto tesouro da história vinícola portuguesa.

Para você ficar ainda mais bem informado, selecionamos alguns links interessantes sobre os temas abordados aqui. Vide abaixo.

Um comentário sobre “Conheça a história da Cartuxa: uma das mais reconhecidas marcas de vinhos do Alentejo

  1. Tarcisio Beraldo disse:

    Iniciativa rara essa da Vino Mundi.
    Poucos tem contato com a história dos vinhos.
    Conhcer um pouco das vinícolas, das uvas de cada vinho faz toda diferença nomento da escolha para saboreá-lo.
    Eu não presenteio sem ter experimentado.
    Agradeço a literatura que a Vino Mundi disponibiliza.
    Aprofundá-la é outros grande desafio.

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