Tipos e Estilos

Conheça um pouco mais sobre o Champagne: o vinho espumante mais famoso do mundo

Champagne, o vinho espumante mais famoso do mundo

Todo Champagne é um vinho espumante, mas nem todo vinho espumante é um Champagne. O espumante mais famoso do mundo é um produto 100% francês, produzido a cerca de 145 quilômetros a leste de Paris, na região que leva o mesmo nome do produto, Champagne.

Champagne é uma Appellation d’Origine Contrôlée (AOC) de cerca de 34.300 hectares, cujo perímetro é definido por uma legislação promulgada em 1927.

O vinho dos reis e rei dos vinhos, como ficou conhecido, é considerado único no mundo por diversos motivos. A localização geográfica das vinhas, o clima da região e o terreno acidentado, as encostas onde as uvas crescem, os solos de giz e calcário, tudo isso contribui para que as características do Champagne não possam ser reproduzidas em nenhum outro lugar.

Neste artigo, descubra conosco um pouco sobre a história do Champagne, as particularidades do terroir da região, os estilos de Champagne produzidos, além de muitas curiosidades.

Tenha uma boa leitura!

 

O terroir de Champagne

Vinhedos na região de Champagne

A região vinícola de Champagne é formada por uma topografia ondulada onde os vinhedos encontram-se predominantemente em encostas.

A inclinação dos vinhedos, que pode chegar a até 59%, torna a manutenção da vinha uma tarefa bem difícil em boa parte da região. Mas o lado positivo, é que são terrenos com excelente exposição solar e que facilitam a drenagem, fazendo com que o excesso de água da chuva escorra livremente.

Solos da região de Champagne

Os solos de Champagne, compostos por restos de microrganismos marinhos, foram formados há aproximadamente 90 milhões de anos, época em que os oceanos cobriam toda a superfície da terra. Calcário, giz e marga formam o terreno poroso de Champagne, que proporcionam às vinhas excelentes condições de cultivo, pois suas raízes permanecem secas, o que ajuda a aumentar a qualidade da uva.

Inverno - neve nos vinhedos de Champagne

A região tem um clima muito particular, onde existe um conflito entre duas condições climáticas distintas: continentais e oceânicas. A influência continental pode causar temperaturas extremamente baixas no inverno, chegando a -10°C e trazendo geadas que devastam as vinhas, e, no verão, tempestades bastante violentas. Já a influência oceânica permite que as vinhas desfrutem de temperaturas amenas, com verões que não fazem muito calor, embora a região receba muito sol, e invernos que não fazem muito frio.

 

Principais áreas de produção do Champagne

Vinhedos na região de Champagne

Os vinhedos de Champagne se estendem por cinco departamentos:

Marne (66% da área cultivada com vinha),
Aube (23% da área cultivada com vinha),
Aisne (10% da área cultivada com vinha),
Haute-Marne,
Seine-et-Marne.

E a área vitivinícola é constituída por quatro principais sub-regiões: Montagne de Reims, Vale do Marne, Côte des Blancs e Côte des Bar. Cada uma dessas áreas tem suas particularidades em termos de topologia, solos e clima.

Montagne de Reims, ao norte, é uma área coberta por florestas e matagais que também é ladeada por dois rios, o Marne ao sul e o Vesle ao norte. Nesta sub-região predomina a uva Pinot Noir.

No Vale do Marne, a oeste, encontram-se os vinhedos que prosperam em encostas íngremes, em ambos os lados do rio Marne, estendendo-se em direção a Paris. A uva Meunier se adapta muito bem a esta zona.

Côte des Blancs é uma das jóias de Champagne, estendendo-se de nordeste a sudoeste e perpendicular ao Vale do Marne. Como o próprio nome sugere, a Côte des Blancs é uma denominação exclusivamente de uvas brancas, com a Chardonnay como grande estrela.

Já a Côte des Bar é a área mais ao sul de Champagne constituída por encostas jurássicas, intercalado por pequenos vales verdes que unem os rios Sena e Aube. A uva mais cultivada nesta área é a Pinot Noir.

 

Pinot Noir, Chardonnay e Meunier – as grandes estrelas

Uvas cultivadas na região de Champagne

Champagne é um blend. Isso significa que é feito com a mistura de vinhos feitos com duas ou mais uvas, e as mais utilizadas na região são Chardonnay, Pinot Noir e Meunier.

Alguns monges foram grandes responsáveis pelo desenvolvimento do Champagne como o conhecemos hoje, e o mais famoso é Dom Pierre Pérignon, um monge beneditino da Abadia de Hautvillers.

Por volta do ano de 1690, a mistura entre vinhos era um processo bastante aleatório. Dom Pierre Pérignon, conhecido por ser um grande degustador, foi um dos primeiros a perceber que vinhos de diferentes crus poderiam complementar-se com um efeito requintado. Então ele começou a misturar vinhos de uma maneira muito mais criteriosa. Isto resultou em vinhos espumantes mais equilibrados e de qualidade superior.

Na segunda metade do século XVII, produtores de Champagne inventaram uma nova técnica de prensagem de uvas, mais suave, onde o suco era separado em frações: isso foi um grande avanço, que permitiu a elaboração de vinhos brancos feitos com uvas tintas, os chamados Blanc de Noirs.

A uva Pinot Noir representa 38% da área cultivada. É a uva que predomina nas sub-regiões de Montagne de Reims e na Côte des Bar, oferecendo ao Champagne corpo, estrutura e aromas de frutas vermelhas e flores (rosa, violeta).

Chardonnay corresponde a 31% da área plantada e é quem domina as plantações na Côte des Blancs. Traz ao Champagne frescor, aromas florais, cítricos e minerais. É uma uva ideal para a elaboração de vinhos que envelhecem bem.

Já a Meunier é responsável por 31% das plantações e se adapta muito bem ao Vale do Marne. É uma uva que suporta muito bem condições adversas e é menos suscetível à geada. Acrescenta ao Champagne suavidade e fruta, com aromas mais intensos de frutos amarelos.

Embora as uvas Pinot Noir, Chardonnay e Meunier sejam as principais utilizadas na produção do Champagne, quatro outras variedades também estão autorizadas na região: Arbane, Petit Meslier, Pinot Blanc e Pinot Gris.

 

Método Champenoise e maturação

Champenoise, o método de produção do Champagne

As bolhas e espuma do Champagne são obtidas através da segunda fermentação do vinho, conhecida como “prise de mousse”.

Muitos espumantes têm a segunda fermentação em grandes tanques de aço inox, o chamado método charmat. Mas, o Champagne realiza sua segunda fermentação na própria garrafa, e esse processo é chamado de método champenoise.

O champenoise é um método de elaboração mais complexo, demorado e custoso, por se tratar de um processo mais ‘artesanal’.

Após concluída a segunda fermentação, as garrafas são levadas para as caves das vinícolas, onde, protegidos contra a luz, descansam em um longo período de maturação, conhecido como maturação sobre borras, ou maturação sur lie. As borras nada mais são do que células decompostas de leveduras, que se formam no líquido através de um processo denominado autólise.

Durante a maturação sobre borras, pequenas quantidades de oxigênio entram na garrafa enquanto pequenas quantidades de dióxido de carbono escapam, causando uma oxidação lenta do vinho, desenvolvendo ainda mais as suas características. A autólise somada à oxidação lenta acrescentam ao Champagne os chamados aromas terciários.

Garrafas empilhadas nas caves subterrâneas de Champagne

Todo Champagne deve passar por um período mínimo de 15 meses de amadurecimento nas adegas do produtor antes do lançamento. No entanto, a maioria dos produtores amadurecem o Champagne por um tempo ainda maior, por volta de 2 a 3 anos.

Já o Champagne Vintage, feitos com uvas de uma única colheita e que apresentam o ano na garrafa, amadureceram por pelo menos 36 meses. Mas, esse tempo muitas vezes é excedido para 4 até 10 anos de maturação.

Garrafa de Champagne Dom Perignon

Uma lenda dos Champagnes Vintage é o Dom Perignon Blanc Vintage 2013. São necessários nada menos que oito anos na adega para que Dom Pérignon expresse a sua primeira plenitude. É um grandioso Champagne que revela a ressonância entre a Pinot Noir e a Chardonnay, entre a acidez e a estrutura.

 

Níveis de doçura do Champagne

Os diferentes níveis de doçura do Champagne

Após o período de maturação sobre as borras, os produtores de Champagne precisam remover os sedimentos da garrafa, para comercializar o espumante límpido e brilhante.

Após a remoção das borras, parte do líquido é perdido e precisa ser reposto. É neste momento que entra o licor de dosagem: uma mistura de vinho e açúcar. A quantidade de açúcar presente no licor de dosagem é o que vai determinar em qual das classificações abaixo o Champagne se enquadra:

Brut Nature – até 3 gramas de açúcar por litro,
Brut – até 12 gramas de açúcar por litro,
Extra-brut – entre 12 e 17 gramas de açúcar por litro,
Sec – entre 17 e 32 gramas de açúcar por litro,
Demi-sec – entre 32 e 50 gramas de açúcar por litro,
Doux – mais de 50 gramas de açúcar por litro.

A adição do licor de dosagem não define apenas o teor de açúcar do Champagne, mas também seu perfil aromático e gustativo. Um licor neutro manterá as características originais do Champagne. Mas se o produtor desejar alguma alteração em seus aromas e sabores, poderá utilizar um licor contendo um vinho reserva, por exemplo, ou algum Champagne envelhecido.

 

Como harmonizar o Champagne

Como harmonizar vinhos espumantes com risotos de cogumelos

São muitas as possibilidades de harmonização com Champagne, desde aqueles com menor tempo de maturação aos mais velhos, passando pelos brancos, rosés e, por fim, os Champagnes doces.

As mesmas recomendações que fazemos para harmonização com vinhos espumantes podem ser empregadas ao Champagne. Em resumo, as comidas leves harmonizam melhor com o Champagne mais jovem, com menos tempo de maturação e comidas mais pesadas e com maior intensidade de sabor ficam muito melhores com os Champagnes mais velhos.

Champagne é uma boa opção para a harmonização com queijos de massa mole. Brie, Brillat-Savarin, Camembert, Coulommiers, Pont L’Évêque, Reblochon e Serra da Estrela, harmonizam muito bem com o Champagne. Quanto mais cremoso e intenso em sabor for o queijo, sugerimos Champagne com maior tempo de maturação.

Cozido, frito ou grelhado, os peixes também são ótimas opções para harmonizar com Champagne. Quanto mais gordo o peixe, recomendamos Champagne de maior estrutura.

O Champagne tem estrutura suficiente para encarar os pratos principais de uma refeição. Massas com molho branco cremoso, risotos de queijos ou cogumelos e o camarão internacional são algumas das possibilidades de harmonização. No entanto, recomendamos Champagnes mais estruturados, com maior tempo de maturação, podendo ser de 36 meses em diante.

Harmonização com o Champagne Pol Roger

O Champagne Pol Roger Reserve Brut é excelente para refeições principais. É um champagne de muita classe e complexidade, que envelhece quatro anos nas frias caves de Pol Roger. É um blend de três variedades de uvas de Champagne: Pinot Noir, Meunier e Chardonnay de 30 safras diferentes. Sem dúvida, uma grande referência em Champagne.

Já o Champagne Demi-sec ou Doux fica ótimo com doces e sobremesas. Torta holandesa, pudim de leite, bolo de nozes, mousse de chocolate, petit gâteau, entre outras saborosas sobremesas ficam ainda melhores com os Champagnes mais doces.

 

Algumas curiosidades sobre o Champagne

Garrafa de Champagne com vinhedos ao fundo

Patrimônio Mundial da UNESCO – Em 4 de julho de 2015 a região de Champagne foi adicionada à lista do Patrimônio Mundial da UNESCO. As encostas, casas e adegas de Champagne figuram na lista do Patrimônio Mundial na categoria “Paisagens culturais vivas organicamente evoluídas”.

Respeito ao meio ambiente – Com intuito de minimizar seu impacto no ambiente, a AOC Champagne exige que os resíduos da prensagem das uvas sejam enviados para destilação. A água utilizada na limpeza de equipamentos de vinificação, tanques e caixas de vindima é recuperada e tratada integralmente.

Em 2003, Champagne foi a primeira região vitivinícola do mundo a avaliar a sua emissão de carbono. Desde então, diversas mudanças estão sendo realizadas nas áreas de viticultura, enologia, transportes, edifícios, aquisição responsável de bens e serviços, entre outros. Graças a esses esforços, a emissão de carbono da região caiu em 15%.

Vinhas domesticadas há muito tempo – Descobertas recentes mostraram que havia vinhas domésticas na atual região de Champagne já no século I.

Vinho dos Reis e o Rei dos Vinhos – A cidade de Reims ganhou destaque real após o batismo de Clóvis na Catedral de Notre-Dame em 496. A escolha do Rei dos Francos tornou-se um símbolo e quase todos os reis da França seriam a partir de então coroados neste local. Foi assim que o vinho da região, inicialmente tranquilo mas depois espumante, passou a ser conhecido como o vinho da coroação e o “o Vinho dos Reis e o Rei dos Vinhos”.

Primeira referência em 1690 – Até à Idade Média, todos os vinhos provenientes da França eram referidos genericamente como “vinhos franceses”. Mas a partir de 1690, foi feita a primeira referência específica aos “Vinhos de Champagne”.

Uma garrafa mais resistente em 1770 – Ao longo do século XVII, a indústria do vidro cresceu de forma constante, fazendo avanços significativos. Isto preparou o terreno para uma nova garrafa de Champagne, criada em 1770, feita de vidro muito mais espesso e, portanto, muito mais resistente. Até então, as garrafas eram usadas apenas para servir vinho, mas agora também podiam ser usadas para armazená-lo.

A delimitação da área de Champagne em 1905 – Em 1905, produtores da região de Champagne pressionaram o Ministério da Agricultura francês para realizar a delimitação da área vinícola oficial de Champagne. Com isso, o nome Champagne ficou estritamente reservado para vinhos “exclusivamente provenientes e produzidos na área vinícola de Champagne”.

 

Referência:

Comité Champagne

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